O coronavírus na África: como o continente utilizou a pandemia da influenza de 1919 para lidar com o coronavírus em 2020  

Grande parte dos países africanos apresentaram menores casos de COVID-19 em 2020

Foi no continente da África, que hoje concentra cerca de 54 países, onde os primeiros ancestrais dos seres humanos surgiram. Com uma visibilidade internacional, é relatado pelo Africa Center, site especialista em estudos estratégicos sobre o continente, que em 1919 os africanos foram surpreendidos com o vírus da influenza, logo após a chegada de navios com cerca de 150.000 tropas africanas. Elas estavam auxiliando em uma guerra na Europa, e pela surpresa que foi a chegada do vírus, os hospitais não possuíam logísticas adaptadas para receber uma grande quantidade de infectados, sendo necessário o envio de missionários estrangeiros para auxiliar no tratamento dos pacientes. O Africa Center também relata que, durante a primeira onda da influenza, morreram cerca de 2% da população africana em apenas 6 meses. Recentemente em 2020, a África assim como o mundo todo foi surpreendida pelo coronavírus, vírus que se espalhou pelo mundo inteiro devido sua transmissão ligeira por meio do ar. A preocupação com o sistema de saúde frágil continuou em pauta, sendo relatado pela BBC News, o fato dos  países africanos serem uma das maiores preocupações da OMS com o combate á COVID-19.  

Primeiramente, o baixo impacto do coronavírus na África se deu pela idade média da população e baixa expectativa de vida. Segundo dados da ONU, os países africanos têm as populações mais jovens do mundo, com uma idade média de 19 anos. Como o vírus da influenza chegou no continente desde de muito cedo, e tinha como grupo de risco principalmente jovens com saúde estável, ele acabou matando a população mais jovem da época. O impacto da influenza foi tão grande na África, que nem mesmo as pessoas mais saudáveis e consequentemente com mais imunidade, conseguiram resistir aos sintomas causados pelo vírus. Com a sua população de jovens praticamente esvaziada devido às ondas passadas vividas por influenza, a elevada taxa de natalidade africana se formou e se consolidou novamente ao longo dos anos. Isso demonstra um cenário em que, cada vez mais, a quantidade de jovens cresce na África. A baixa expectativa de vida da população na pandemia do coronavírus, se tornou benéfica, já que os grupos de risco mais vulneráveis a COVID-19 eram idosos com saúde instável, tendo apenas 2% da população com 65 anos ou mais.  

Em 24 de janeiro de 2020, o coronavírus chegou na Europa, e com o número de óbitos que só aumentavam dia a pós dia, segundo a BBC News, “Os governos africanos, que já assistiam o caos que se instalava em países da Europa com a propagação do vírus, adotaram respostas rápidas de saúde pública”. A partir disso, após aproximadamente dois meses o coronavírus chegou na África. Durante esse período de observação da propagação do vírus nos países europeus, os governos africanos que já tinham conhecimento do caos que poderia ser causado pela COVID-19, tornaram obrigatório no dia a dia dos africanos, medidas de distanciamento social e o uso de máscaras, como relatado pela BBC News. As autoridades da África tiveram o privilégio de já saber as providências a serem aplicadas pelo o que foi vivenciado por outros. A matéria da BBC News complementa que, por mais que alguns países africanos estiveram em negação com a pandemia sem adotar medidas necessárias, a maioria deles se adaptou para não acontecer o desespero e desorganização que houve na pandemia da influenza, já que na época houve uma má gestão por parte das autoridades responsáveis pela segurança e bem estar do povo, informação trazida pelo Africa Center, além de muitos livros que são vividos na África de 1919 apresentarem esse posicionamento, por exemplo o Listening for Lions, de Gloria Whelan.   

Por meio de análises de especialistas na reportagem da BBC News, foi adotado a hipótese de que como os países africanos não possuem uma taxa de turismo tão grande, a transmissão do vírus tenha se tornado menor. Frederique Jacquerioz, especialista africano em saúde pública da equipe de medicina tropical e humanitária do Hospital Universitário de Genebra diz que “Em um mundo globalizado, esse foi um dos fatores que alimentou a disseminação do vírus na Europa, onde grupos de jovens passam fins de semana em diferentes cidades. Talvez na África, nesse sentido, haja menos mobilidade entre os países”. O especialista afirma que, grande parte do continente não atrai esse tipo de turista que é atualmente o mais comum e o que dá retorno financeiro aos países, mas no contexto de pandemia isso se tornou um benefício para a população africana. 

A África surpreendeu o mundo todo com a forma com que lidou com a pandemia, já que além de seu contexto histórico ter te beneficiado, foi um dos últimos continentes em que a COVID-19 se propagou. Como mencionado, um dos temores da OMS com os países africanos era em relação ao seu frágil sistema de saúde, proveniente de serem, se comparados a outras nações, pobres economicamente e com um baixo nível de urbanização. A partir da disponibilidade de vacinas imunizantes, a África apresentou uma baixa taxa vacinal, o que é um risco para todo o planeta. Os dados do site Andes  informam que cerca de 83% da população não recebeu a vacina. Esse atraso na vacinação poderá facilitar e gerar condições necessárias para o surgimento de novas variantes do vírus, que tendem a ser mais contagiosas e agressivas para a saúde da população. 

Mulher recebendo segunda dose da vacina da Pfizer em Katlehong, leste de Joanesburgo, na África do Sul, no dia 1º de outubro. Foto de Themba Hadebe/AP
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