Desencadeamento de estresse pós-traumático em profissionais da área de saúde após a Covid-19

“Ainda hoje recebo cuidados psicológicos, tomo pílulas para dormir, cada vez menos, e continuo a trabalhar”, diz Alice, enfermeira do Hospital Universitário La Paz, em Madrid

A pandemia da doença infecciosa Covid-19 vêm desencadeando na parcela da população que foi infectada pelo vírus SARS-CoV-2o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), de acordo com dados de uma pesquisa publicada em 2021 pela revista científica Molecular Psychiatry, que revelou que cerca de 18% das pessoas infectadas com tal vírus foram diagnosticadas com TEPT. A pesquisa teve como base 88 estudos com informações de prevalência e fatores de risco do transtorno na pandemia, mostrando que a prevalência de estresse pós-traumático pós-pandêmico em todas as populações foi de 22,6%, mas já os profissionais de saúde tiveram a maior prevalência, correspondendo a 26,9%. 

A desenvoltura do TEPT em profissionais que atuam na área de saúde pode ser explicada pelo fato de que esses profissionais, no contexto da pandemia, lidam diariamente com a morte de várias pessoas, vivem e revivem várias vezes situações em que os pacientes infectados sofrem intensamente e, no meio de todos esses acontecimentos, esses atuantes na área de saúde entram em contato com a possibilidade do adoecimento deles e de transmitir esse vírus para suas famílias, amigos e até mesmo outros pacientes, de acordo com Gabriela Haleplian, psicóloga do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) em uma entrevista dada ao Jornal da USP, em 2021.

Também em 2021, o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) publicou a tradução da reportagem espanhola La Rioja, que investiga o transtorno do estresse pós-traumático entre profissionais de Saúde na linha de frente do combate à pandemia. Nessa reportagem, são entrevistados alguns profissionais da saúde que lutam diariamente com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Entre esses profissionais, a auxiliar de enfermagem no Hospital Universitário La Paz (Madrid), Keyla, fala sobre como eram seus dias de plantão no hospital cuidando de infectados: “Vomitava no final do dia, mas seguia trabalhando. Precisavam de mim.”

Assim como Keyla, uma enfermeira que atuava no mesmo hospital em Madrid, Alice, fala sobre suas lembranças e como, mesmo um ano e meio depois desses acontecimentos, ela continua em uma batalha mental: “A morte ou a doença são uma possibilidade nessa profissão, mas você nunca pensa que, por causa do seu trabalho, pode acabar matando seus filhos, seu marido, seus pais.” e “As memórias dos doentes e das mortes por COVID não desaparecem, são como um laço na minha memória.” 

Rosto marcado e cansado de uma profissional da área de saúde – Foto por Ary Bassous / Fonte: Conexão Planeta

De acordo com os resultados da pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19, realizada pela Fiocruz, a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% de trabalhadores da área de saúde. 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho de enfrentamento da Covid-19, e o principal motivo, para 23% deles, está relacionado à falta, à escassez e à inadequação do uso dos equipamentos de segurança para enfermagem. 64% desses profissionais revelaram a necessidade de improvisar equipamentos. Os participantes da pesquisa também relataram a ausência de estrutura adequada para realização da atividade (15%), além de fluxos de internação ineficientes (12,3%). Além disso, esses trabalhadores apresentaram na pesquisa o medo generalizado de se contaminar no trabalho e, dessa forma, poderem prejudicar outras pessoas.

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