Com especialidades em áreas variadas a clínica inaugurou, no Rio de Janeiro, com foco na história pessoal de cada paciente e representatividade

A clínica Ifé Medicina, situada na rua Flamengo, no Rio de Janeiro, inaugurou em julho do ano passado. “Quando a gente alia, de forma satisfatória, saúde, ciência e escuta, a medicina ganha”, diz Liana Tito, em uma entrevista para a revista Claudia, a respeito da importância de ligar estes fundamentos ao tratamento do paciente no momento da consulta. Pensando nisso, as médicas estavam navegando na internet em busca de uma palavra que desse significado ao motivo principal da criação da clínica, “Queríamos algo curtinho e que remetesse à nossa ancestralidade”, disse Cecília Pereira sobre a da importância da representatividade do grupo, e logo encontraram a palavra Ifé, que significa amor em iorubá.
As irmãs Aline Tito, cardiologista, e Liana Tito, oftalmologista, foram as pioneiras no projeto da clínica Ifé. A ideia surgiu em uma conversa, quando Liana deu a incrível proposta de fazer um consultório junto com sua irmã, que amou a iniciativa, “Topei na hora e, 15 dias depois, ela me perguntou se aceitaria dividir o espaço com outras médicas”, disse Aline, em entrevista para o jornal O Globo.
A Aline, aceitou a proposta da irmã de partilhar o espaço da clínica com outras médicas e elas encontraram mais três profissionais com currículos extraordinários para fazerem parte da equipe, que são a Julia Rocha, dermatologista, Abdulay Eziquiel, cirurgiã plástica, e Cecília Pereira, mastologista.
As médicas cresceram numa realidade onde não existiam quase nenhum médico negro para se consutarem, o que para elas acabara gerando na sociedade uma não identificação de pessoas negras com a profissão. A partir disso, elas se reuniram para criar a clínica com protagonismo negro, para levar representatividade e inspirar as futuras gerações. “Ao longo dos 12 períodos de curso foram dois professores negros, e em torno de cinco colegas de sala, fato que, talvez pela imaturidade, não me despertou o insight de que essa pudesse ter uma profissão que iria me trazer frutos pessoais por minha competência, mas seria também uma ferramenta para abrir caminhos e mudar a representatividade para gerações futuras”, comenta Cecília sobre o assunto. “Hoje enxergo com clareza a importância e a força da coletividade para a mudança de conceitos enraizados sobre o que seria a figura de um médico. Essa figura não existe, ela pode e deve ser possível a todos desde que as oportunidades sejam dadas de forma a buscar equidade”, inteira.
Apesar das médicas prestarem serviço para todos os públicos, as pessoas negras são a maioria dos pacientes que chegam para fazer consultas com elas. “Nem é preciso dizer que a identificação é imediata. O paciente se sente seguro, pois sabe que não precisará ficar constrangido para falar sobre problemas comuns à raça negra – como uma pele mais ressecada no cotovelo ou uma axila mais pigmentada”, relata Julia.
