Cresce nos últimos dois anos, o número de crianças que não sabem ler e escrever

 Estudo mostra que 41% das crianças de 6 e 7 anos não sabem ler e escrever

Imagem retrata crianças afetadas pela pandemia enfim voltando as aulas

Segundo dados divulgados pela ONG Todos Pela Educação no início deste ano, somente na faixa etária entre 6 e 7 anos, o número de crianças brasileiras que não sabem ler e escrever cresceu 66% de 2019 até o final de 2021, somando-se aos demais efeitos desastrosos da covid-19 no Brasil.

Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a análise mostra que já são 2,4 milhões de crianças brasileiras não alfabetizadas nesta faixa etária, correspondendo a 40,8% do total de crianças no país.

A falta de acesso à internet, entre outros fatores, foi um grande agravante para essa situação durante a pandemia, considerando que quase todas as escolas optaram por aulas online, o que contribuiu para que muitas crianças e jovens ficassem sem aulas, já que 47 milhões de pessoas não têm acesso à internet, segundo estudo do Comitê Gestor da internet no Brasil, ocasionando que muitas não retornassem para suas escolas.

Entre os estados brasileiros que adotaram o ensino remoto, apenas 15% distribuíram dispositivos aos alunos e menos de 10% forneceram acesso gratuito à internet, contribuindo para que 3,7 milhões de estudantes matriculados não tivessem acesso a atividades escolares e não conseguissem estudar em casa, conforme pesquisa da UNICEF (Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância), órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) e do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).

Segundo Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais da Todos pela Educação, os impactos na alfabetização de crianças criou uma situação preocupante em diversas dimensões, com reflexos maiores entre alunos negros e pobres.

Conforme dados apresentados pela ONG, mais de 47% de todas as crianças pretas e 44,5% das pardas não estão completamente alfabetizadas no Brasil. Já entre as crianças brancas o número é de 35,1%. Quando comparamos os domicílios ricos e pobres do país, o índice é de 16,6% para os mais favorecidos financeiramente, contra um salto para 51% entre os mais pobres.

Gráfico retrata percentual de crianças que não sabem ler e escrever no brasil (Por raça/cor, de 2012 a 2021)

De acordo com outra pesquisa do C6 Bank/DataFolha, somente em 2020 a taxa de abandono escolar chegou a quase 11% no ensino médio e 4,6 no fundamental. Entre as principais causas está mais uma vez a questão socioeconômica, considerando que os estudantes de classes mais baixas lideram os índices de evasão com 10,6% para as classes D e E, contra 6,9% para as classes A e B.

Conforme o estudo citado da UNICEF, o Brasil corre o risco de regredir duas décadas no acesso à educação, e a ONG Todos pela Educação recomenda que para solucionar ou diminuir esses efeitos negativos são necessárias ações imediatas e constantes do poder público através de uma parceria forte entre Municípios, Estados e Governo Federal. Ela reforça ainda que a não alfabetização das crianças em idade adequada traz prejuízos para aprendizagens futuras, além de aumentar os riscos de reprovação e abandono escolar. Por isso, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) estabelece a alfabetização como foco principal da ação pedagógica nos 2 primeiros anos do ensino fundamental.

Por Adam Landeiro Bourguignon / @adamlandbourg

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